NÚMERO DE JOVENS ASSASSINADOS NO BRASIL É ASSUSTADOR
Por Suely Torres
Dados do Atlas da Violência 2018 mostram o alarmante número de jovens, entre 15 e 29 anos, assassinados no país, cujo fenômeno vem sendo denunciado ao longo das últimas décadas. No entanto, essa grave situação permanece sem a devida resposta em termos de políticas públicas que efetivamente venham a enfrentar o problema. Os dados de 2016 indicam o agravamento do quadro em boa parte do território nacional: os jovens, sobretudo os homens, seguem prematuramente perdendo as suas vidas.
Em 2016, lamentavelmente, 33.590 jovens foram assassinados no país, onde 94,6% eram do sexo masculino, representando um aumento de 7,4% em relação ao ano anterior. Se, em 2015, pequena redução fora registrada em relação a 2014 (-3,6%), em 2016 voltamos a ter crescimento do número de jovens mortos violentamente.
Vinte estados brasileiros registraram um aumento na quantidade de jovens assassinados, em 2016, que chamam a atenção: o Acre teve 84,8%, o Amapá registrou 41,2%, seguidos pelos grupos do Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e Roraima, que apresentaram crescimento em torno de 20%. Pernambuco, Pará, Tocantins e Rio Grande do Sul, tiveram crescimento entre 15% e 17%. De forma positiva, em apenas sete estados verificou-se uma redução, com destaque para Paraíba, Espírito Santo, Ceará e São Paulo, onde houve diminuição entre 13,5% e 15,6%.
No período compreendido entre 2006 e 2016, o país sofreu aumento de 23,3% nesses casos, com destaque para a variação anual verificada em 2012, de 9,6% e 2016, de 7,4%. Nesse mesmo período, destoa sem igual comparativo o caso do Rio Grande do Norte, com elevação de 382,2%. Cabe ressaltar que parte desse incremento é reflexo, também, do aprimoramento dos dados da saúde, que aumentou a notificação dos casos antes classificados como morte violenta por causa indeterminada.
Chama a atenção, ainda, um conjunto de estados que haviam apresentado redução nesse mesmo período (2006-2016), mas voltou a ter crescimento do número de homicídios de jovens em 2016, como é o caso do Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Paraná e Pernambuco.
A taxa de homicídios da população jovem permite comparar as UFs, indicando como o fenômeno se distribui de modo heterogêneo no país, assim como identificar onde o problema é mais grave. Em 2016, as taxas variaram de 19 homicídios por grupo de 100 mil jovens, no estado de São Paulo, até 142,7 em Sergipe, sendo a taxa média do país 65,5 jovens mortos por grupo de 100 mil.
Além da comparação entre os estados brasileiros, os dados do Atlas da Violência 2018 mostram que esses jovens assassinados são em absoluta maioria negros, pobres e moram nas periferias dos grandes centros urbanos. O que revela que um dos principais aspectos da desigualdade racial no Brasil é a forte concentração de homicídios na população negra. É como se, em relação à violência letal, negros e não negros vivessem em países completamente distintos. Infelizmente, o Brasil parece ter desistido do seu futuro.
Dados do Atlas de Violência 2018